Ano 146.177
A guardiã Aegwynn se tornou cada vez mais poderosa, e usou as energias de Tirisfal para estender sua vida. Na tolice de supor que havia derrotado Sargeras de uma vez por todas, ela continuou a salvaguardar o mundo dos lacaios do rei demônio por cerca de novecentos anos. Contudo, chegou o momento em que o Concílio de Tirisfal decretou o fim de seu tempo como guardiã. O Concílio ordenou a Aegwynn que ela voltasse a Dalaran para que eles pudessem escolher um sucessor para receber o poder do Guardião. Mas Aegwynn, que jamais confiara no Concílio, decidiu escolher um sucessor por conta própria.
A orgulhosa guardiã planejava gerar do próprio ventre um filho que herdaria todo o seu poder. Ela faria o possível para impedir que a Ordem de Tirisfal tentasse manipular o próximo guardião como haviam tentado manipular a ela própria. Ela viajou à nação do sul, Azeroth, e lá encontrou o homem perfeito para ser o pai de seu filho: um mago habilidoso chamado Nielas Aran. Nielas Aran era o mago da corte e conselheiro do rei de Azeroth. Aegwynn seduziu o mago e concebeu um filho dele. A afinidade natural entre Nielas e a magia correria no filho, e guiaria os passos trágicos daquela criança no futuro. O poder de Tirisfal também havia sido passado à criança, mas só despertaria quando ela atingisse a maturidade.
Quando chegou a hora, Aegwynn deu à luz um menino em um bosque recluso. Ela o nomeou Medivh, que na língua dos elfos superiores significa “guardião dos segredos”. Aegwynn acreditava que o garoto cresceria para se tornar o próximo guardião. Infelizmente, o espírito maligno de Sargeras, que se escondia no interior de Aegwynn, possuíra a criança indefesa ainda no ventre. Ela não fazia ideia de que o mais novo guardião do mundo já estava possuído por seu nêmesis.
Certa de que o garoto era forte e saudável, Aegwynn entregou o jovem Medivh à corte de Azeroth e o deixou lá para ser criado por seu pai mortal e sua gente. Abandonando a civilização, a guardiã se preparou para os reinos desconhecidos que a aguardavam além da vida. Medivh cresceu, um garoto forte que não fazia ideia do poder tirisfaliano que corria em suas veias.
Sargeras era paciente, e esperava o poder do jovem se manifestar. Medivh foi um adolescente popular, fama conquistada pela proeza nas artes da magia. Ele costumava se aventurar com dois amigos: Llane, o príncipe de Azeroth, e Anduin Lothar, um dos últimos da linhagem dos Arathi. Os três garotos se metiam constantemente em confusões por todo o reino, mas eram benquistos pelo povo.
Ao completar quatorze invernos, o poder cósmico de Medivh despertou e colidiu com o espírito pungente de Sargeras, que lhe habitava a alma. Medivh foi tomado por um estado catatônico que perdurou por anos. Ao despertar de seu coma, ele descobriu que se tornara adulto e que seus amigos Llane e Anduin eram os regentes de Azeroth. Embora ele desejasse usar seus recém-adquiridos poderes para proteger a terra que chamava de lar, o espírito sombrio de Sargeras perturbava seus pensamentos e emoções, levando-os a um fim insidioso.
O coração de Medivh enegrecia e nele habitava um Sargeras extasiado, que sabia que os planos para a segunda invasão estavam prestes a se concretizar, e que quem os tornaria possíveis seria ninguém menos que o último guardião do mundo.
Medivh e o Destino de Draenor
Kil’jaeden e o Pacto Sombrio
Enquanto Medivh nascia em Azeroth, Kil’jaeden, o Impostor, conspirava com seus seguidores na Espiral Etérea. O ardiloso lorde demônio, sob as ordens de Sargeras, seu mestre, tramava a segunda invasão da Legião Ardente a Azeroth. Desta vez ele não permitiria que ocorresse nenhum erro. Kil’jaeden inferiu que era necessário que as defesas de Azeroth fossem abaladas por uma nova força antes mesmo da Legião pôr os pés no mundo. Que, se as raças mortais, tais como os dragões e os elfos noturnos, tivessem de pelejar contra uma nova ameaça, eles ficariam fracos demais para opor resistência quando a verdadeira invasão da Legião chegasse.
Foi então que Kil’jaeden descobriu o vicejante mundo de Draenor, que flutuava em paz na Grande Treva Infinita. Lar das xamanísticas tribos órquicas e dos pacíficos draeneis, Draenor era tão idílica quanto vasta. Os nobres clãs órquicos vagavam pelos prados e caçavam por esporte, enquanto os inquisitivos draeneis construíam cidades rústicas no interior dos penhascos e picos de Draenor. Kil’jaeden sabia que os habitantes daquele mundo tinham grande potencial para servir à Legião, se fossem cultivados da maneira apropriada.
Das duas raças, ele julgou que os guerreiros órquicos eram mais suscetíveis à corrupção da Legião. Kil’jaeden seduziu e escravizou o xamã órquico ancião, Ner’zhul, da mesma maneira que Sargeras colocara a Rainha Azshara sob seu controle em eras passadas. E, através do astuto xamã, ele difundiu entre os clãs dos orcs a sede de sangue e a selvageria. Em pouco tempo, a raça antes espiritualizada se tornou um povo sanguinário. Kil’jaeden urgiu a Ner’zhul e os orcs que dessem o passo final: entregar-se inteiramente à busca da morte e da guerra. Mas o velho xamã, na percepção súbita de que seu povo estava prestes a se tornar escravo do ódio, conseguiu, de alguma forma, resistir ao comando do demônio.
Frustrado pela resistência de Ner’zhul, Kil’jaeden procurou outro orc que pudesse colocar seu povo sob o domínio da Legião. O astuto lorde demônio encontrou o discípulo ideal: o ambicioso aprendiz de Ner’zhul, Gul’dan. Kil’jaeden prometeu a Gul’dan poderes nunca antes vistos em troca de total e completa obediência. O jovem orc se tornou um estudante ávido da magia demoníaca e o mais notável bruxo mortal da história. Ele ensinou as artes do arcano a outros jovens orcs e lutou para erradicar as tradições xamanísticas. Gul’dan apresentou a seus irmãos um novo tipo de magia, um novo poder que exalava ares de danação e tragédia.
Para estender ainda mais o seu domínio sobre os orcs, Kil’jaeden ajudou Gul’dan a fundar o Concílio das Sombras: uma seita secreta que manipularia os clãs e espalharia a magia dos bruxos por Draenor. Quanto mais orcs manipulavam as magias demoníacas, mais os campos e rios de Draenor enegreciam e evanesciam. Com o tempo, os prados vastos que gerações e gerações de orcs haviam chamado de lar minguaram, deixando apenas um solo vermelho e arenoso. As energias demoníacas matavam, aos poucos, aquele mundo.
Medivh e a Ascensão da Horda
Sob o controle secreto de Gul’dan e do Concílio das Sombras, os orcs se tornaram cada vez mais agressivos. Eles construíram arenas gigantescas onde as habilidades dos guerreiros eram postas à prova em batalhas mortais. Durante este período, alguns dos líderes dos clãs se colocaram contra o estado de degeneração que se agravava na raça órquica. Um desses chefes, Durotan, do clã Lobo do Gelo, advertiu os orcs de que eles estavam a se perder em ódio e fúria, mas era como se ele falasse para uma multidão de surdos. Cada vez mais chefes poderosos, tais como Grom Grito Infernal, do clã Brado Guerreiro, queriam trilhar este novo caminho de guerra e dominação.
Kil’jaeden sabia que os orcs estavam quase prontos, mas precisava ter certeza de que a lealdade deles seria inabalável. Ele fez com que o Concílio das Sombras evocasse, em segredo, Mannoroth, o Destruidor, receptáculo vivo da destruição e da fúria. Gul’dan convocou os chefes dos clãs e os convenceu de que se tornariam invencíveis se bebessem do sangue de Mannoroth. Liderados por Grom Grito Infernal, todos os chefes beberam, exceto Durotan, e assim eles selaram sua sina como escravos da Legião Ardente. Fortalecidos pela fúria do demônio, os chefes estenderam a servidão a seus irmãos.
Consumidos pela maldição, os orcs, sedentos de sangue, liberariam sua ira sobre qualquer um que lhes opusesse resistência. Gul’dan, sentindo que havia chegado o momento, uniu os clãs beligerantes em uma única e irrefreável Horda. Gul’dan sabia, contudo, que os vários chefes, como Orgrim Martelo da Perdição e Grito Infernal, pelejariam para obter a supremacia absoluta. Assim, ele colocou um fantoche como chefe guerreiro da Horda. Mão Negra, o Destruidor, o fantoche escolhido por Gul’dan, era um senhor da guerra terrível e cruel. Sob o comando de Mão Negra, a Horda se colocou à prova pela primeira vez contra os simples draeneis.
Em poucos meses a Horda havia erradicado quase toda a população draeneica de Draenor. Apenas um punhado de sobreviventes escapou à ira sinistra dos orcs. Tomado pela vitória, o êxtase de Gul’dan perante o poder e a força da Horda era imenso. Mas ele sabia que, se a Horda não encontrasse logo um novo inimigo, ela se consumiria a si mesma, em infinitos conflitos internos, guiada por sua sede infinda de sangue e glórias.
Kil’jaeden sabia agora que a Horda estava, enfim, pronta. Os orcs se haviam tornado a maior arma da Legião Ardente. O demônio falaz informou seu paciente mestre da atual situação, e Sargeras concordou que era chegada a hora da vingança.