Muita coisa aconteceu desde a última vez que escrevi nesse diário. Para começar, o Tio Chen finalmente voltou para a Ilha Errante (graças à ajuda da ilustríssima euzinha aqui). Não demorou nada e acabamos nos enfiando depois de onde o vento faz a curva, procurando pelo continente lendário de Pandária. A maioria do povo na Grande Tartaruga acreditava que o lugar tinha sido destruído muito tempo atrás, por guerra e doenças.
Bem, eles estavam redondamente enganados.
Depois de lutar contra piratas, sobreviver a uma tempestade no mar e dar conta de todos os tipos de perigos que você pode imaginar, o Tio Chen e eu fizemos o impossível: encontramos Pandária, a terra natal perdida dos nossos ancestrais!
Mas chegar lá acabou sendo muito mais difícil do que esperávamos. A única pista que tínhamos era uma Pérola de Pandária, um artefato místico que me concedeu visões sobre como encontrar o continente. Pô, ela bem que podia ter avisado sobre como a jornada seria perigosa.
O que importa é que chegamos a Pandária inteiros. Aportamos perto da Floresta de Jade, uma região que se estende por toda a costa leste do continente. Havia florestas verdes até onde dava para ver e densos bambuzais que serviam de casa para plantas e bichos esquisitos.
A gente não tinha mapa, mas isso não foi um problema. Depois de dar uma olhada na área em volta, escolhemos uma direção aleatória e começamos nossa jornada como qualquer verdadeiro seguidor do Caminho do Errante: um passo de cada vez.
Rapidinho apareceram uns nativos para dizer oi. Dúzias de homens-lagarto de olhos brilhantes (chamados sauroks, descobri depois) surgiram da floresta. O grupo cheirava a couro velho curtido em cerveja podre e depois besuntado com o patê de peixe fermentado da Vó Mei. E isso era o que tinham de melhor.
Acabamos tendo que dar um jeito nos caras de calango (bem, o Chen deu um jeito neles). O único que deu trabalho mesmo foi o líder, um saurok imenso coberto de cicatrizes, pintura de guerra e mais cicatrizes. Logo, logo ele deu no pé para a floresta feito uma lagartixa, chorando lágrimas de saurok.
Encontramos o acampamento dos lagartos ali por perto. Estava cheio com o que parecia ser um baita de um saque: carroças com grãos, verduras e pedações de jade purinho. Enquanto vasculhávamos aquele montão de coisas, um grupo de pandarens apareceu. Quando viram que os sauroks já eram, todos se curvaram e fizeram reverências como se fôssemos heróis! Os feiosos aterrorizavam aquela área fazia tempo, e todas as tentativas de acabar com eles tinham falhado.
Nosso novo fã-clube ficou de queixo caído quando o Tio Chen disse que vinha da Ilha Errante. Achavam em Pandária que a Grande Tartaruga tinha batido as botas, pois passaram séculos sem nenhum sinal dela. A semelhança dos pandarens da Floresta de Jade com os lá de casa me deixou bastante surpresa. Além de algumas diferencinhas, tipo as roupas, pouquíssima coisa mudou em gerações.
Quando descobriram que éramos exploradores à moda antiga, os pandarens contaram um monte de coisas sobre a Floresta de Jade, sobre seus habitantes e sobre o ponto mais importante dela: o Templo da Serpente de Jade. Além de ter sido construído para homenagear o lendário imperador Shaohao, o incrível templo também tinha uma ligação com a Serpente de Jade, Yu’lon, um dos quatro seres celestiais que cuidavam de Pandária.
Quando chegamos ao templo, havia trabalhadores escavando uma estátua de jade enorme, chamada Coração da Serpente. A cada cem anos, Yu’lon transfere sua vida para a escultura, que se transforma num novo ser. Esse ciclo — criar estátuas para que Yu’lon possa renascer — existia desde sempre, e os saqueadores sauroks quase estragaram tudo quando roubaram o suprimento de jade desses caras.
Um dos zeladores do templo, o Mestre Ancião Chuva-Zhu, levou o Tio Chen e eu num passeio, pra conhecer a área. Ele era tão bacana que nos levou até o Arboreto, ao norte, um pedacinho de terra lindíssimo que servia de lar para a Ordem da Serpente das Nuvens. Esse grupo destemido tinha uma longa história de domar, criar e montar as serpentes das nuvens da região, majestosos monstros voadores que eu tinha visto cruzando o céu acima do templo.
O Velho Chuva-Zhu disse que atenderia qualquer pedido nosso por termos derrotado os sauroks e devolvido o jade. Meu primeiro impulso foi pedir uma serpente só para mim (os filhotes eram muito fofos!), mas o Tio Chen achou que seria demais. Então pedi a segunda melhor coisa: uma voltinha numa serpente das nuvens!
Eu já tinha voado numa garça gigante em casa e até num zepelim goblínico, mas essa serpente das nuvens era um negócio fora de série. O bichão disparou para o céu mais rápido do que qualquer coisa que eu já vi. A altura me deu uma vista muito boa do que tinha depois da Floresta de Jade: a oeste, planícies extensas e fazendas; a noroeste, um monte de montanhas tão altas que pareciam de mentira, os picos tão altos que estavam cobertos de neve. Pandária era enorme. Tinha tanta coisa para descobrir! Eu estava explorando um continente inteiro, onde nenhum pandaren da Ilha Errante tinha pisado por gerações!
Antes de cruzarmos o resto da floresta, meu tio e eu decidimos dar a Pérola de Pandária ao Chuva-Zhu. Ele foi muito legal com a gente, nos tratou como se fôssemos da família, e vendo como aqueles pandarens reverenciavam o templo como um lugar de sabedoria e iluminação, não poderíamos pensar em nenhum lugar melhor que aquele para a pérola. Foi difícil desistir dela, mas eu já tinha chegado aonde queria: Pandária. Era hora da pérola ajudar mais alguém a alcançar seu destino.
Nas semanas seguintes, o Tio Chen e eu andamos… E andamos… E andamos mais um pouco. A Floresta de Jade parecia não acabar nunca, e a cada passo surgia uma emoção inesperada: templos de pandarens reclusos, ruínas ancestrais cobertas de mato e cipó, monastérios enfiados lá no alto das montanhas. O único problema era meu tio andando feito uma lesma, parando de cinco em cinco minutos para “admirar a paisagem”.
Depois de sei lá quanto tempo, finalmente chegamos ao fim da Floresta de Jade. À nossa frente ficava o Vale dos Quatro Ventos, as fazendas que eu tinha visto lá de cima, montada na serpente das nuvens. A essa altura, eu já não me aguentava de tanta vontade de explorar qualquer coisa que não fosse uma floresta, mas não fazia ideia do que me esperava na próxima parte da viagem.
Logo faríamos uma descoberta que mudaria para sempre tudo o que sabíamos sobre a família Malte do Trovão