Durante as semanas em que o Tio Chen e eu exploramos a Floresta de Jade, comecei a me sentir uma estranha, totalmente desligada de Pandária. Claro, meus ancestrais vieram de lá, mas isso foi gerações atrás. Mesmo tendo encontrado alguns hozens (maiores e mais espevitados do que os que conheci na minha terra), quase todo o resto do continente estava totalmente mudado.
Bem, isso tudo foi antes de eu visitar o Vale dos Quatro Ventos. Era uma casa longe de casa, mas muito maior. O vale — considerado o celeiro de Pandária — estava coberto por fazendas tão gigantescas que faziam as Fileiras da Ilha Errante parecerem uma jardineirazinha. Aposto que uma colheita do vale alimentaria todos os pandarens do Vilarejo Mandori — mesmo um gorducho feito o Tio Chen — por uma vida inteira.
Eu poderia encher esse diário inteiro com as coisas que vi no vale: do ronco enlouquecedor das Cataratas de Huangtze à magia das Lagoas da Pureza. Mas não foram as coisas novas que chamaram a minha atenção; estranho mesmo foi encontrar coisas familiares tão longe de casa.
Essas descobertas começaram quando estávamos explorando o vale ao lado de outros heróis de Azeroth, viajantes como nós. Encontrar estranhos não foi uma surpresa tão grande, e o tio até me contou que tinha cruzado com membros da Horda e da Aliança algumas semanas antes (enquanto eu dormia). As duas facções tinham chegado à Floresta de Jade e estavam causando todo tipo de problema. Até arrastaram alguns nativos para o conflito, como os hozens e uma raça de peixoas chamada jinyu. Por sorte, o Tio Chen e eu já estávamos de saída da floresta quando a confusão começou.
Não muito depois de chegarmos ao vale, conhecemos um sujeito chamado Caneca de Barro, um pandaren amigável que fazia a própria cerveja com água lamacenta. Ele era meio estranho, mas não é que era um cara bem legal? Do nada, ele falou de uma Cervejaria Malte do Trovão, que ficava por perto. O Tio Chen e eu mal conseguíamos acreditar: a gente tinha primos vivos em Pandária — e uma cervejaria! A notícia fez o Tio Chen apertar o passo pela primeira vez em semanas.
Infelizmente, a cervejaria estava um caos. Vermingues (iguaizinhos aos da Ilha Errante, cuspidos e escarrados) infestaram os armazéns de grãos e arroz. Hozens haviam tomado partes da construção e enlouquecido Para piorar, o Malte do Trovão responsável pela cervejaria, o Tio Gao, nem queria nossa ajuda! Claro que o Tio Chen e eu não deixaríamos a maior descoberta da história da família ser arruinada por um parente rabugento.
No fim, conseguimos dar um fim à praga da cervejaria (coisa que não teríamos conseguido sem nossos novos amigos do mundo exterior). Quando o lugar já estava sob controle de novo, o Tio Gao se abriu para mim e para o Tio Chen. Ele disse que antes havia muitos Malte do Trovão vivendo e trabalhando lá, mas todos tinham ido ao Oeste para lutar contra um povo inseto antigo, conhecido como mantídeo. Gao tinha ficado para cuidar da cervejaria. Acho que ele estava sob muita pressão para se manter à altura do nome da família, pois se esforçou para desenvolver uma boa cerveja que algumas ficaram instáveis — aquele tipo de instabilidade que faz com que as bebidas criem vida e tentem matar você.
Gao não sabia quando os outros Malte do Trovão voltariam, mas contou tudo sobre eles. Também contou a história da nossa família no vale, que começava muitos anos antes. Perto da cervejaria, ele nos mostrou um velho santuário dedicado à viúva Mab Malte do Trovão e seu filho, Liao. Meu papi já tinha me falado deles. Depois que o marido morreu num acidente trágico com um esmagador de uva, ela pegou o Liao e começou uma nova vida na Ilha Errante.
Além da família Malte do Trovão, existiam laços ainda maiores entre o vale e minha terra natal. Gao disse que o Liu Lang — o fundador da Ilha Errante — tinha nascido e crescido perto da cervejaria. Imagina só! O local exato do nascimento, perto de uma vila chamada Arado de Pedra, ficava nos limites do vale, a leste.
Todo dia eu aprendia alguma coisa nova sobre a região e sobre meus parentes distantes. Tudo ia às mil maravilhas, até que más notícias chegaram…
Alguma coisa bem grande estava acontecendo lá para os lados do oeste, perto de uma muralha imensa chamada Espinhaço da Serpente. Muitos anos antes, os mogus — brutos gigantescos que governaram Pandária até os meus ancestrais chutarem os traseiros deles — tinham construído uma barreira para se protegerem dos arqui-inimigos deles, os mantídeos. Os pandarens protegiam o Espinhaço, mas os insetões tinham acabado de furar as defesas e começavam a invadir o povoado mais próximo: o Arado de Pedra!
O Tio Chen e eu nos juntamos ao grupo de pandarens reunido no Arado de Pedra para cuidar dos invasores. Nós limpamos o chão com a cara dos mantídeos, mas eu fiquei com a sensação de que esse era só o primeiro de muitos ataques. Os moradores sussurraram algo sobre uma outra força ter sido responsável pelo ataque, um poder negro e misterioso conhecido como sha. Senti um calafrio só de imaginar um mal tão malvado em Pandária.
As coisas se acalmaram depois do ataque. O Tio Chen e o Tio Gao passaram dias inteiros na cervejaria, discutindo receitas e testando novas cervejas. Por mim, tudo bem. O Tio Chen vinha apertando minha coleira desde que chegamos em Pandária. Eu estava me coçando para ter a chance de explorar sozinha e sabia o lugar perfeito para visitar: a Selva Krasarang. Foi de lá que Liu Lang saiu de Pandária nas costas de Shen-zin Su, a tartaruga marinha que acabaria crescendo e se tornando a Ilha Errante!
Eu aprendi umas coisas sobre Krasarang com um dos fazendeiros do vale. Ele me alertou sobre os grandes perigos do lugar, mas ouvir aquilo me deu ainda mais vontade de ir lá. Juntei alguns suprimentos e deixei um bilhete para o Tio Chen, dizendo para onde ia. Ele tinha enfiado o focinho tão fundo em sacos de malte e lúpulo que imaginei que estaria de volta antes de ele perceber que eu tinha saído.
Finalmente eu estava livre, trilhando meu próprio caminho. Próxima parada: Selva Krasarang e o local onde nasceu a Ilha Errante!