Eu pensava que a Floresta de Jade era grande, mas não chegava aos pés do Monte Kun-Lai. As montanhas lá são tão altas que, mesmo do balão, eu tinha que espichar o pescoço para ver o ponto em que as escarpas nevadas sumiam nas nuvens.
Nosso destino, o Templo do Tigre Branco, se encontra na parte nordeste de Kun-Lai. Assim como os templos da Floresta de Jade e da Selva de Krasarang, ele é dedicado a um dos lendários celestiais de Pandária. No caso, Xuen, o Tigre Branco. O piloto do balão, Shin, também o chamou de espírito da força, que parece a característica ideal para se ter nessas montanhas tão severas.
O templo estava um gelo quando chegamos. Minhas patas estavam dormentes quando terminamos de desembarcar todos os barris de peixe. Nem Shisai, meu bandinim, escapou do frio. Neve cobria seu pelo dos pés à cabeça, e seus bigodes tinham congelado. Eu teria me sentido mal pelo coitadinho se ele não andasse tão rabugento nos últimos tempos. Na véspera, ele tinha tentado me morder quando eu o surpreendi roubando peixe dos barris!
Havia alguma coisa errada com ele, mas eu não sabia o que era… ainda.
Depois de fazermos a entrega, voltamos aos céus e partimos para as altas estepes rochosas na parte sul de Kun-Lai. A maioria das pessoas da região mora lá. Além de cabanas de hozen e aldeias pandarênicas, eu vi um acampamento jinyu às margens de uma lagoa chamada Lagoa Guelra-pintada. Eu esperava aprender muito sobre a cultura ancestral e a rica história dessa espécie anfíbia. Mas, mais importante, eu queria saber como eles conseguem colocar peixinhos dentro de bolhas e fazê-los flutuar no ar.
Mas eu nunca tive a oportunidade de explorar Guelra-pintada. De fato, não pude aproveitar nada em Kun-Lai. A cada segundo que passava, Shisai se tornava mais perigoso e imprevisível.
— Ele está zangado — explicou Shin, notando o comportamento do bandinim. — Mas não é culpa dele… — O pandaren me contou que um dos shas, um ser de pura raiva, tinha escapado de sua prisão nas montanhas e estava aterrorizando as estepes, fazendo com que a violência irrompesse entre os povos do lugar.
Para piorar as coisas, uma espécie de nômades mulambentos com cara de iaque, os yaungóis, tinham invadido a região, vindos do oeste. Os sacanas agiam como se fossem donos do lugar, queimando os acampamentos que encontravam. Shin não sabia se a aparição súbita dos yaungóis tinha conexão com o sha, mas os brutamontes não estavam tornando a vida em Kun-Lai segura.
Embora não pudéssemos fazer muito a respeito do sha ou dos yaungóis, ainda podíamos ajudar meu bandinim. Shin disse que sabia quem poderia curar os problemas de humor de Shisai: Corajoso Yon.
Yon vivia em uma pequena caverna no Monte Kota, uma montanha afastada na parte sudoeste de Kun-Lai. Ele era um pandaren excêntrico, famoso por sua habilidade de domar animais selvagens e treiná-los para o combate. Por sorte, Shin era um velho amigo de Yon. Assim, ele nos recebeu muito bem em sua casa e concordou em ajudar Shisai. Com cuidado, inspecionou o bandinim rabugento. De vez em quando, ele se virava para as mascotes em sua caverna e lhes perguntava algo, ou sussurrava alguma coisa. Mas o que eu achei esquisito mesmo foram os suéteres, botinhas e cachecóis esquisitos pendurados das paredes. Era evidente que tinham sido tricotados para diferentes tipos de animal. Cada item de vestuário tinha até o nome de cada mascote de Yon bordado!
— Pode rir — disse o domador, um tanto na defensiva, quando me viu olhando para as roupinhas. — Mas no frio é importante manter as mascotes aquecidas. Dá para distender um músculo aqui, sabia.
É… Yon era meio biruta, mas eu gostava dele. Ele me lembrava os mestres monges da Ilha Errante, que passavam a vida inteira treinando as suas artes. Mas, em vez de buscar o equilíbrio interior, Yon fazia coelhinhos saírem na mão com filhotes de crocoliscos. O que também era bem legal.
Ao longo do dia seguinte, Yon me mostrou maneiras de lidar com Shisai e como “direcionar a raiva dele”. Eu entendi que ele queria dizer “ensinar o bandinim a lutar com outros animais”. Eu nunca pensei que minha bolinha de pelo danada conseguiria memorizar táticas de batalha, mas ele acabou se saindo muito bem nisso!
Shisai estava conseguindo encarar algumas das mascotes veteranas de Yon (graças ao meu trinamento estratégico, claro). E mais: a luta de fato acalmou Shisai. Depois de rachar a cabeça de alguns adversários, ele voltava a ser o velho Shisai de sempre, embora com mais cicatrizes.
Na manhã seguinte, eu saí do Monte Kota com Shin e Shisai. Antes de partirmos, Yon me deu uma sacola cheia de suprimentos velhos para mascotes: brinquedinhos para o Shisai mastigar se ficasse impaciente, guloseimas e um monte de coisa mais. O domador não pediu pagamento. Eu admirei muito o gesto. Ele ajudou Shisai por causa do amor que sentia por domar feras. E, bom, o fato de ele saber que eu não tinha dinheiro nenhum também deve ter pesado.
Shin pilotou o balão para o leste e tentamos decidir onde ele iria me deixar. No meio de nossa conversa, algo em terra chamou minha atenção. Dezenas e dezenas de pandarens estavam passando por um portão gigante na fronteira sul de Kun-Lai.
Shin disse que ali era o Portão dos Celestiais Majestosos. Estava atônito pelo portão estar aberto. Parece que estava fechado havia milhares de anos. Além da muralha ficava um lugar envolvido em lendas e mistérios havia muito: o Vale das Flores Eternas. Um lugar onde bem pouca gente já havia pisado.
Ou seja, o vale era o sonho de qualquer explorador, e eu logo soube para onde tinha que ir em seguida.