Ner’zhul, o ancião xamã do Clã da Lua Negra e posteriormente o lich rei, é um personagem cuja história está intrinsecamente ligada aos acontecimentos mais catastróficos de Azeroth e Draenor, o mundo natal dos orcs. A trajetória de Ner’zhul reflete um arco dramático de ascensão e queda, marcado por escolhas que alteraram o destino de mundos. Sua história é uma mistura de ambição, manipulação e uma busca trágica por redenção.
A Ascenção de um Xamã
Antes de se transformar na figura sombria que viria a conhecer, Ner’zhul era respeitado entre os orcs como um poderoso xamã, um líder espiritual que comunicava com os elementos e os ancestrais. Por um tempo, ele manteve a harmonia entre as tribos orc e a sagrada tradição xamânica, defendendo o equilíbrio com a natureza e os espíritos. Foi esse respeito e influência que, ironicamente, prepararam o palco para sua descida à escuridão.
A Manipulação de Kil’jaeden
O ponto de virada para Ner’zhul começou com a chegada de Kil’jaeden, um senhor demoníaco da Legião Ardente. Disfarçando-se como o espírito da esposa falecida de Ner’zhul, Kil’jaeden fez com que o xamã acreditasse que os draeneis, pacíficos moradores de Draenor, eram uma ameaça iminente aos orcs. Movido pelo desejo de proteger seu povo, Ner’zhul incitou as tribos orcs contra os draeneis, dando início a uma espiral de guerra e violência.
O Despertar e a Traição
Com o tempo, Ner’zhul começou a suspeitar das verdadeiras intenções de Kil’jaeden e, ao buscar as verdades escondidas, descobriu a terrível manipulação a que havia sido submetido. Na tentativa de deter a destruição que havia desencadeado, ele buscou se opor a Kil’jaeden. No entanto, sua tentativa de rebelião foi rápida e brutalmente reprimida. O Senhor Demoníaco descartou Ner’zhul, voltando sua atenção e manipulação para seu ambicioso pupilo, Gul’dan, que se mostrava mais do que disposto a seguir os desejos da Legião Ardente em troca de poder.
A Queda e a Jornada para o Lado Sombrio
Fracassado e marginalizado entre seu próprio povo, Ner’zhul tornou-se uma sombra do líder e xamã que uma vez foi. Seu erro em julgamento e a subsequente traição que ele sofreu o levaram por um caminho de escuridão cada vez mais profundo. Em sua busca desesperada por redenção e poder para salvar o que restava de seu povo após as guerras e a corrupção demoníaca, Ner’zhul começou a explorar os aspectos mais sombrios da magia.
O Nascimento do Lich Rei
Sua queda definitiva da graça veio quando, sedento por poderes que pudessem contrapor os da Legião Ardente e dos humanos em Azeroth, Ner’zhul abriu portais para mundos desconhecidos em Draenor. Esta ação imprudente levou à quase destruição de Draenor, transformando-a no que hoje é conhecida como Terralém. Desesperado e preso por suas próprias decisões, Ner’zhul foi capturado por Kil’jaeden, que o torturou e transformou seu espírito no Lich Rei, selando-o dentro do Trono de Gelo em Azeroth. Sua missão era preparar o mundo para a invasão da Legião Ardente, mas em seu âmago, o que restava de Ner’zhul clamava por vingança contra Kil’jaeden e qualquer um que se opusesse a ele.
Esta transformação não apenas marcou a perda final de Ner’zhul como o xamã que ele havia sido, mas também o início de uma era de terror para Azeroth, à medida que o Lich Rei começava a tecer sua influência gelada através do continente de Nortúndria, criando o flagelo e preparando o terreno para alguns dos eventos mais sombrios que o mundo de Warcraft jamais conheceria.
À medida que o reinado do Lich Rei Ner’zhul se desdobrava sobre Azeroth, a magnitude de seu poder e influência tornou-se inquestionavelmente clara. Encerrado dentro do Trono de Gelo, sua vontade se estendia por Nortúndria, manipulando os mortos e construindo um exército inigualável destinado a servir a Legião Ardente — e, secretamente, seus próprios desígnios de vingança. Porém, dentro dessa casca de poder inimaginável, a consciência de Ner’zhul lutava contra a corrupção e o controle da Legião, um conflito interno que definiria o capítulo final de sua existência trágica.
A Fusão e o Nascimento de Arthas como Lich Rei
O destino de Ner’zhul começou a se entrelaçar de maneira irreversible com o do príncipe humano Arthas Menethil, que, corrompido pelo chamado do Lich Rei, tinha se tornado um campeão poderoso do flagelo. A ambição e a corrupção de Arthas o levaram até o Trono de Gelo, onde, num ato de fusão entre ele e Ner’zhul, uma nova entidade surgiu: um Lich Rei com as memórias e ambições de ambos, mas com o controle quase que completamente dominado pela persona de Arthas. Neste ponto, a identidade original de Ner’zhul começou a se diluir, transformando-se em um espectro dentro da consciência do monarca gelado.
A Queda do Lich Rei e o Legado de Ner’zhul
Com Arthas firmemente estabelecido no comando como o novo Lich Rei, a influência direta de Ner’zhul sobre os eventos em Azeroth diminuiu. No entanto, o eco de suas ações, e a semente da destruição que havia plantado, continuaram a florescer. Foi sob o comando de Arthas que o flagelo alcançou o pico de seu poder, ameaçando varrer toda a vida de Azeroth e instaurar um reino de mortos.
A história de Ner’zhul encontrou um tipo de conclusão apenas quando Arthas, o Lich Rei, encontrou seu fim nas planícies geladas de Nortúndria, derrotado pelas forças combinadas dos mortais de Azeroth. Com a morte de Arthas, a influência de Ner’zhul, que já havia sido suprimida há muito tempo, foi extinta de uma vez por todas — ou assim se acreditava.
O Eterno Legado e a Ressonância Através dos Reinos
Apesar da aparente conclusão da influência de Ner’zhul como o Lich Rei, seu legado perdurou, entrelaçado às próprias fibras da história de Azeroth. A criação do flagelo, a corrupção de Arthas, e os subsequentes conflitos em Nortúndria se tornaram momentos decisivos, moldando o futuro de reinos e povos inteiros.
Mais além, a essência fragmentada de Ner’zhul encontraria um novo capítulo nas sombras dos reinos da morte, em Maldraxxus, parte das Terras Sombrias. Aqui, um eco de seu ser foi forjado em uma nova entidade, o Barão do Lich, um guerreiro marcado pelo passado e condenado a lutar nas eternas batalhas de Maldraxxus. Mesmo nesta forma despojada, o espírito de Ner’zhul persiste, um testemunho da tenacidade de sua vontade e da profundidade de sua queda.
Reflexão e Redenção?
A história de Ner’zhul é uma lembrança sombria dos perigos da ambição desmedida, da manipulação e da perda de si mesmo em busca de poder. Ao mesmo tempo, sua jornada transmite uma complexidade que vai além do mal absoluto, retratando-o como uma figura tragédia, cujos erros iniciais o conduziram por um caminho do qual não pôde retornar.
Se existe redenção para alguém como Ner’zhul, talvez resida na consideração de sua história como um aviso, um farol que guie outros a ponderar as consequências de suas escolhas, antes de sucumbir ao abismo que uma vez o engoliu. Neste sentido, a história de Ner’zhul, com todas as suas camadas de tragédia, poder e queda, continuará a ressoar por eras, um eco sombrio nas cantigas entoadas pelo vento frio que sopra sobre as terras geladas de Nortúndria.